Quando me
apaixonei por você, me apaixonei pelo o que eu não tinha.
Me
apaixonei pela sua disciplina, pela sua coerência, pelo seu pensamento prático,
pelo amor que sei que você têm dentro do peito. Ainda continuo apaixonada por
tudo o que você têm e eu não, mas isso já não importa mais.
Quando
fomos morar juntos, me apaixonei pelo seu jeito de cuidar da casa, pela sua
praticidade em fazer coisas do dia a dia que sempre foram muito difíceis pra
mim, me apaixonei pelo pai que você se mostrou ser, mas isso já não importa
mais.
Se falhei
foi por te respeitar demais. Se falhei foi por tentar ser a mulher, a esposa, a
mãe, que você sonhava em ter por perto. Foi por te amar demais. Um amor que
talvez você entenda em outros planos, porque nesse já não importa mais.
Não sou uma
pessoa omissa, sou uma pessoa que as vezes não sabe o que fazer, mas quem sabe
o que fazer o tempo todo?
Não sou uma
mãe omissa, procuro dentro de mim o que não me foi ensinado, e tento tento
tento ser a melhor mãe que consigo ser. Mesmo não lendo todos os livros, ouço a
minha intuição, mas você não confia.
Nunca te
disse, ou te demonstrei que o que você fez não foi o suficiente, nunca.
Te pedi
para ser receptivo quando chegássemos em casa e você foi, comprei dois
presentes de Natal para a sua criança interior, te abraçava sempre que você me
deixava chegar perto. Fiz uma surpresa pra você no seu aniversário enquanto
você trabalhava, dei a maior força para a sua mãe e sua irmã virem nos visitar,
paguei as contas da casa quando você não podia, saí para trabalhar fora pra ver
se o trabalho não interferia mais na nossa relação. Morria de dor de estômago
quando tinha que te dizer que eu precisava trabalhar a noite, ou nos finais de
semana, porque sabia que você ia levar para o lado pessoal.
Mesmo você
indo trabalhar fora o dia todo, e eu ficando com todos com todos os afazeres de
casa e mais o meu trabalho, eu nunca me senti mal com isso.
Eu sempre
estive disposta pra você, sempre, mas isso não importa mais.
Sim, tenho
muito o que me arrumar, tenho muito o que consertar, mas não sou uma pessoa
ruim.
Tentava
deixar a casa em ordem quando você saia para trabalhar, do jeito que você
gostava: o umidificador ligado, as cortinas da sala abaixadas durante a noite,
a vela acesa no altar. Me preocupava em comprar frutas, em saber como foi o seu
trabalho. Sempre perguntei se você precisava de alguma coisa do Mundo Verde, da
padaria, da farmácia, do supermercado. Morri de amor e de paixão por você
quando fazíamos amor. Nunca amei ninguém como te amei, mas isso, já não importa
mais.
Você me
disse na Bahia: Se eu não der conta de viver com você do seu jeito, eu vou
embora. E você foi. Mas não antes de falar coisas que não sou eu. Não antes de
tentar me destruir. Fez-se uma cratera dentro de mim. Ando rezado muito e
pedido a Deus para me ajudar nessa travessia.
Outro dia
eu pedi desculpas para as crianças, porque errei. (o que eu fiz: esqueci a Rosa
na escola e voltei para buscar) E eu pedi perdão e disse a eles: “Todo mundo erra, e todo mundo pode
consertar. Eu erro, o Levi erra, a Gaia, a vovó, a Elis, o Theo...” e o
Levi me disse: “O papai não erra, ele só
dá bronca na gente. E eu disse: “O papai erra sim, todo mundo erra e não tem
importância errar, porque sempre a gente pode consertar.”
Outro dia
também, o Levi deu um pedaço de tapioca para a Gaia e eu disse: “Levi, você é muito generoso!” E ele me
respondeu em segredo, baixinho no ouvido:
Eu sou generoso porque faço parte da equipe da nossa jornada.”
E no carro,
Levi me pergunta: Quando o papai vai
sarar? E eu disse: Logo. Ele já esta
sarando, né? Ele fica muito feliz com vocês.
E o Theo
fala lá de trás:
Mãe, você já parou pra pensar que
ele é triste, mas ele finge ficar feliz por causa da gente?
E eu digo: É... pode ser!
E ficamos
todos em silêncio.
E é isso o
que tenho ensinado a eles. A entender que todo mundo erra, que a gente pode ser
generoso e enganar a tristeza muitas vezes.
É na minha
oração no carro com eles, indo ou voltando da escola. É na escolha de passar um
final de semana com o Theo, ao invés de sozinha. É no meu desespero de deixar
um mundo melhor pra eles, que te digo: Não sou uma pessoa omissa. E sim, eu
mostro Deus a eles.
Sou apenas
diferente de você. Nem melhor, nem pior, mas diferente. Mas isso já não importa
mais.
Nesse mês
que passou, eu quis te dizer: vem aqui, me dá um abraço, pára, desculpa, não
faz assim, vem aqui.
Sonhei que
você me jogou uma furadeira na cabeça, e ontem sonhei com o seu abraço.
Na minha
jornada, levo a trilha do Lenine que você me apresentou.
Somos
diferentes e ponto. E você não respeita a nossa diferença.
Talvez você
não saiba receber esse amor que eu e o Theo temos e sempre teremos por você.
Se eu tenho
algo pra te dizer é: obrigada!
Porque sim,
você estará comigo pra sempre. Dentro de mim. Levo comigo o melhor desses 5
anos.
Obrigada
por fazer parte da minha história.