quinta-feira, 5 de junho de 2014

Filhos, quando a gente ama é assim.

Quando me apaixonei por você, me apaixonei pelo o que eu não tinha.
Me apaixonei pela sua disciplina, pela sua coerência, pelo seu pensamento prático, pelo amor que sei que você têm dentro do peito. Ainda continuo apaixonada por tudo o que você têm e eu não, mas isso já não importa mais.

Quando fomos morar juntos, me apaixonei pelo seu jeito de cuidar da casa, pela sua praticidade em fazer coisas do dia a dia que sempre foram muito difíceis pra mim, me apaixonei pelo pai que você se mostrou ser, mas isso já não importa mais.

Se falhei foi por te respeitar demais. Se falhei foi por tentar ser a mulher, a esposa, a mãe, que você sonhava em ter por perto. Foi por te amar demais. Um amor que talvez você entenda em outros planos, porque nesse já não importa mais.

Não sou uma pessoa omissa, sou uma pessoa que as vezes não sabe o que fazer, mas quem sabe o que fazer  o tempo todo?
Não sou uma mãe omissa, procuro dentro de mim o que não me foi ensinado, e tento tento tento ser a melhor mãe que consigo ser. Mesmo não lendo todos os livros, ouço a minha intuição, mas você não confia.

Nunca te disse, ou te demonstrei que o que você fez não foi o suficiente, nunca.

Te pedi para ser receptivo quando chegássemos em casa e você foi, comprei dois presentes de Natal para a sua criança interior, te abraçava sempre que você me deixava chegar perto. Fiz uma surpresa pra você no seu aniversário enquanto você trabalhava, dei a maior força para a sua mãe e sua irmã virem nos visitar, paguei as contas da casa quando você não podia, saí para trabalhar fora pra ver se o trabalho não interferia mais na nossa relação. Morria de dor de estômago quando tinha que te dizer que eu precisava trabalhar a noite, ou nos finais de semana, porque sabia que você ia levar para o lado pessoal.

Mesmo você indo trabalhar fora o dia todo, e eu ficando com todos com todos os afazeres de casa e mais o meu trabalho, eu nunca me senti mal com isso.

Eu sempre estive disposta pra você, sempre, mas isso não importa mais.

Sim, tenho muito o que me arrumar, tenho muito o que consertar, mas não sou uma pessoa ruim.

Tentava deixar a casa em ordem quando você saia para trabalhar, do jeito que você gostava: o umidificador ligado, as cortinas da sala abaixadas durante a noite, a vela acesa no altar. Me preocupava em comprar frutas, em saber como foi o seu trabalho. Sempre perguntei se você precisava de alguma coisa do Mundo Verde, da padaria, da farmácia, do supermercado. Morri de amor e de paixão por você quando fazíamos amor. Nunca amei ninguém como te amei, mas isso, já não importa mais.

Você me disse na Bahia: Se eu não der conta de viver com você do seu jeito, eu vou embora. E você foi. Mas não antes de falar coisas que não sou eu. Não antes de tentar me destruir. Fez-se uma cratera dentro de mim. Ando rezado muito e pedido a Deus para me ajudar nessa travessia.

Outro dia eu pedi desculpas para as crianças, porque errei. (o que eu fiz: esqueci a Rosa na escola e voltei para buscar) E eu pedi perdão e disse a eles: “Todo mundo erra, e todo mundo pode consertar. Eu erro, o Levi erra, a Gaia, a vovó, a Elis, o Theo...” e o Levi me disse: “O papai não erra, ele só dá bronca na gente. E eu disse: “O papai erra sim, todo mundo erra e não tem importância errar, porque sempre a gente pode consertar.”

Outro dia também, o Levi deu um pedaço de tapioca para a Gaia e eu disse: “Levi, você é muito generoso!” E ele me respondeu em segredo, baixinho no ouvido: Eu sou generoso porque faço parte da equipe da nossa jornada.”

E no carro, Levi me pergunta: Quando o papai vai sarar? E eu disse: Logo. Ele já esta sarando, né? Ele fica muito feliz com vocês.
E o Theo fala lá de trás:
Mãe, você já parou pra pensar que ele é triste, mas ele finge ficar feliz por causa da gente?
E eu digo: É... pode ser!
E ficamos todos em silêncio.

E é isso o que tenho ensinado a eles. A entender que todo mundo erra, que a gente pode ser generoso e enganar a tristeza muitas vezes.

É na minha oração no carro com eles, indo ou voltando da escola. É na escolha de passar um final de semana com o Theo, ao invés de sozinha. É no meu desespero de deixar um mundo melhor pra eles, que te digo: Não sou uma pessoa omissa. E sim, eu mostro Deus a eles.

Sou apenas diferente de você. Nem melhor, nem pior, mas diferente. Mas isso já não importa mais.

Nesse mês que passou, eu quis te dizer: vem aqui, me dá um abraço, pára, desculpa, não faz assim, vem aqui.

Sonhei que você me jogou uma furadeira na cabeça, e ontem sonhei com o seu abraço.
Na minha jornada, levo a trilha do Lenine que você me apresentou.

Somos diferentes e ponto. E você não respeita a nossa diferença.

Talvez você não saiba receber esse amor que eu e o Theo temos e sempre teremos por você.

Se eu tenho algo pra te dizer é: obrigada!
Porque sim, você estará comigo pra sempre. Dentro de mim. Levo comigo o melhor desses 5 anos.

Obrigada por fazer parte da minha história.